sábado, 22 de agosto de 2009

Lembranças que não se perdem



Vou postar aqui trechos de mais um de meus livros, espero que gostem. Boa leitura!

Capítulo 1
Adriane entra em casa, anda de um lado a outro por instantes, em seguida se deixa cair no sofá.
Perdida em seus pensamentos, ela permanece sentada por alguns minutos, de repente é despertada com o som da campainha tocando. Estava tão envolvida em seus pensamentos que demorou um tempo para que fosse atender somente após a campainha tocar mais duas vezes, foi que ela se levantou para verificar quem era.
- Pois não? – diz ela abrindo a porta.
- Olá, sou seu novo vizinho, me mudei para o bairro faz uma semana e como sempre a encontro quando ando pelo bairro, resolvi passar aqui hoje porque acho que isso é seu não é? – diz o rapaz mostrando um envelope nas mãos.
- É meu sim! Como conseguiu? – pergunta admirada.
- Como te disse sempre te encontro, mas você passa por mim e parece não me notar.
- Sou meio distraída mesmo.
- Como eu estava dizendo, outro dia passei por você e percebi quando deixou cair de sua mão esse envelope quando foi colocá-lo em sua bolsa. Tentei alcançá-la, mas você “apertou” o passo.
Adriane se sentia cansada, não queria conversar naquele momento, porém, gostou muito da atitude daquele rapaz, além de demonstrar ser muito educado e ter uma boa aparência o que lhe transmitiu confiança.
- Obrigada! Você não imagina como essa carta é importante pra mim.
- E fique sossegada, pois sou discreto e não li seu conteúdo.
Ela ruborizou-se, com certeza havia demonstrado mais preocupação pela possibilidade de o rapaz ter lido a carta do que gratidão por sua atitude.
- Desculpe, nem me apresentei, meu nome é Matheus, muito prazer. – o rapaz estende a mão para cumprimentá-la.
- O prazer é meu, me chamo Adriane, não quer entrar?
- Posso mesmo?
- Claro, por favor!
Matheus entra e Adriane faz com que a acompanhe até a cozinha.
- Não costumo deixar estranhos entrar em minha casa, mas você foi muito gentil trazendo minha correspondência.
- Eu estava mesmo querendo te conhecer.
- Sente-se, quer beber alguma coisa?
- Bebo o que você beber. – responde Matheus sentando-se à mesa.
- Tem café e chá, o que prefere?
- Café!
Adriane pega duas xícaras do armário, põe duas garrafas térmicas sobre a mesa, enche uma xícara com café e a outra com chá, em seguida também se senta.
- Desculpe a pergunta, mas, você mora aqui sozinha?
- Minha vida é um pouco complicada, quem sabe, com o tempo, te conto.
- Bom, sendo assim, vou falar um pouco sobre mim. – ele bebe um gole de café, e prossegue – Eu sou meio nômade, um pouco cigano, já vivi em muitos lugares.
- Sério? Que interessante, mas porque viaja tanto?
- Primeiro por causa da minha profissão, e também porque não gosto de tédio, monotonia...
- E qual sua profissão?
- Sou guia de turismo.
- Deve ser bem legal trabalhar nessa área!
- Se é! Gosto muito do que faço.
- Você me parece ser bastante independente, morar sozinho?
- Moro sim, não troco minha liberdade por nada nesse mundo!
Após, mais alguns minutos de conversa rotineira, Matheus se despede e vai embora deixando em Adriane uma ótima impressão. Ela vai até a cozinha, pega o envelope que estava na mesa e volta para se sentar no sofá da sala.
- Se eu perdesse essa carta não me perdoaria! – pensa a garota olhando para o envelope.
Ela sabia que poderia achar varias respostas de seu passado com aquela correspondência.
Voltou aos seus pensamentos e se lembrou de Paula, sua babá, quase uma mãe, na verdade a única mãe que conheceu.
Lembrou-se quando ela lhe contou, em um dia que chorava em seu colo quando ainda tinha entre seis ou sete anos de idade, perguntando por que tinha sido adotada.
Paula a havia encontrado quando estava a caminho de seu trabalho, na ocasião ela era uma jovem de dezenove anos. Sua sandália tinha se desamarrado, vendo um banco de uma praça, Paula sentou-se para amarrá-la.
Ouviu um barulho, pensou ser um gato e não deu muita bola, mas ao ouvir novamente, decidiu verificar que barulho era aquele.
Olhou por entre umas folhagens que existia atrás do banco e se separou com uma criança enrolada com uma espécie de lençol cortado.
Estava frio neste dia, por isso o bebê que mal conseguia chorar, já estava com os lábios roxos. Imediatamente ela apanhou a criança no colo, e já neste momento sentiu que iria amá-la. Abraçada aquele pequeno ser, a levou para um hospital mais próximo onde foi prontamente atendida.
Ela sabia que deveria preencher um fichário no hospital, por isso relatou o ocorrido tendo de ficar ali ate a chegada da policia para dar maiores informações.
Antes disso, pediu ao medico para ver o bebê que a conduziu ao berçário, mesmo dentro de uma incubadora, ela podia ver o rosto tranqüilo da criança.
- É uma menina. – disse o médico.
Paula não respondeu nada, apenas sorriu e pensou:
- Se ao menos eu tivesse condições financeiras, adotaria essa menina, seria minha filha!
Adriane deu uma pausa em seus pensamentos para enxugar alguma lágrimas que escorriam de sua face e caia sobre o envelope.
Ela se levantou, foi até a cozinha, apanhou um pouco de água, bebeu alguns goles voltando em seguida para sala. Deitou-se no sofá, colocou a carta junto ao seu peito, pressionando com força, fechou os olhos e voltou a lembrar do rosto meigo de sua ex babá.
Após Paula esclarecer as perguntas dos policiais, disse que precisava ir trabalhar, pois já estava muito atrasada. Mas antes quis saber o que seria da criança, para onde seria levada após receber alta do hospital.
- Provavelmente para o juizado de menores e depois para algum orfanato. – respondeu o policial.
Paula saiu do hospital com um aperto no coração, se sentindo angustiada em deixar aquele bebê sozinho.
- Mas o que eu poderia fazer? – pensou
Paula era uma m oca pobre e não tinha condições para adotá-la, era solteira e morava com os pais.
Conformada com sua situação chegou ao seu trabalho e ouviu resignada as broncas de sua patroa pelo atraso.
- Mas dona Fernanda, a senhora nem imagina o que me aconteceu.
- Então me de uma boa explicação, sou toda ouvidos! – disse a patroa com tom autoritário.
Fernanda era uma socialite muito conhecida, de um gênio forte e intransigente, não tolerava ser contrariada. Gostava de viver de aparências, fazendo de tudo para parecer ter e ser mais que suas amigas.
Após ouvir o relato, Fernando ficou pensativa por alguns instantes.
- Por favor, dona Fernanda, não me atrasei por mal, é que tive de ficar no hospital dando explicações a polícia. Se a senhora visse aquela criança, tenho certeza que também se esqueceria da hora.
- Fique quieta Paula, estou tendo uma idéia.
Paula não se atreveu a dizer mais nada, abaixou a cabeça e ficou esperando que ela continuasse aplicando broncas.
- Você disse que esta criança iria para algum orfanato não disse?
- Sim senhora, se ninguém da família aparecer no hospital, ela ira para algum orfanato com toda certeza.
- Por coincidência, no meu chá da tarde rotineiro de ontem, eu e algumas amigas estávamos comentando sobre como nos daria estatus se adotássemos uma criança, sairíamos em muitas revistas e colunas de jornais, e também glorificadas por nossa nobreza.
Paula ficou com o coração descompassado, será que sua patroa estaria mesmo pensando em adotar aquela criança? Ela sabia que não seria por nenhum ato de nobreza que ela faria isso, pois Fernanda nunca gostou de crianças, queria apenas ser mais requisitada, paparicada, e mais conhecida que suas amigas.
Porém, seria uma grande oportunidade para poder ficar perto daquele bebê que sabia que já amava, mesmo tendo ficado tão pouco tempo junto dela.
- Talvez se eu adotasse essa criança...
- A senhora está falando serio?
- Estou pensando, afinal, das minhas amigas, só mesmo eu e a Brigitte demonstramos coragem para isso. E se eu adotar primeiro serei admirada pelas outras.
- Se a senhora quiser, dou o endereço do hospital onde a criança está internada.
- Vou me arrumar e você irá comigo! – Fernanda deu as costas demonstrado satisfação com sua idéia.
Paula sentia um misto de alegria e tristeza, pois em nenhum momento a patroa demonstrou interesse na saúde da criança, como pode não se comover com a situação desse bebê? – pensava ela.
Horas mais tarde foram ao hospital, Fernanda já havia avisado todas suas amigas. A rica senhora não encontrou problemas para adotar a criança.
Não demorou muito para que conseguisse o que almejava, saiu em varias revistas e jornais, foi o centro das atenções em todas as festas que freqüentava, todos admiraram sua atitude.
O tempo foi passando, as pessoas esquecendo e como um brinquedo usado, Adriane, já com um ano e meio de idade, foi deixada de lado por sua mãe adotiva que havia passado o cargo de babá para Paula que quase não acreditou quando soube que poderia passar o tempo todo com aquela linda garotinha.
Quando Adriane completou dois anos, Fernanda engravidou. Ficou furiosa, pois não queria “estragar” seu belo corpo, isso fez com que desse menos atenção ainda para a menina. Tudo a incomodava e ao menor ruído, saia aos gritos descontando em seus empregados o descontentamento por estar engordando.
Depois que o bebê nasceu Fernanda se acalmou, pois gostava de ser paparicada e naquele momento todos a estavam mimando elogiando seu lindo filho que recebeu o nome de Reinaldo Junior.
Todos paparicavam o menino se esquecendo definitivamente de Adriane que não conseguia entender porque não podia brincar com seu irmão.
Somente aos sete anos descobriu, ouvindo uma conversa de Fernanda com seu marido, que havia sido adotada.
Correu para o quarto e chorou copiosamente, Paula que estava passando próximo ao quarto, ouviu o choro e entrou e abraçando a garota perguntou o que havia acontecido.
- O que foi Adriane, porque chora tanto?
- Tia Paula, mamãe disse para o papai que como eu sou adotada, não posso brincar com o Reinaldinho.
- Sinto muito minha querida, um dia você iria acabar descobrindo a verdade, mas seus pais te amam e eu também.
- Mas mamãe não gosta quando vou até seu quarto, ela me manda sair, se não gosta de mim, porque me adotou?
- Você é muito pequena, não entende sobre adoção.
- Entendo sim, minha professora explicou porque tem um garoto na minha sala que é adotado. Mas ela também disse que esse menino é até mais amado porque foi escolhido por pessoas que não tinham obrigação de cuidar dele por não ser filhos de sangue, mas amam porque são pais de coração.
- Sabe disso, porque chora?
- Mas mamãe não demonstra amor por mim, eu sei disso. – Adriane passa as mãos nos olhos tentando secar as lagrimas que teimam em cair.
Paula olha para ela e fala em tom firme:
- Adriane, você é uma garota de sorte, sua mãe pode parecer um pouco distante, mas esse é o jeito dela. Aprenda uma cosa, não somos vitimas ninguém é por isso enxugue essas lagrimas e tente entende-la, faça de tudo para não aborrecê-la, seja feliz respeitando o jeito de ser de cada um. Além disso, eu te amo muito e sempre estarei a seu lado.
Ela para de chorar, esforça um sorriso e abraça com carinho a pessoa que mais amava na vida.
Adriane enxuga algumas lagrimas, olha para seu relógio de pulso e se levanta do sofá em direção a seu quarto onde guarda o envelope na gaveta do criado-mudo.
- Ah tia Paula... – suspira ela – se não fosse pela senhora, o que seria de mim?
Ela pega algumas roupas e vai tomar banho, depois prepara algo para comer, pois naquele dia ainda não havia almoçado.
Continua...

3 comentários:

Anônimo disse...

Q compriiiiiido!

Karina Kate disse...

Você escreve incrivelmente bem. No começo eu acreditava que ela não deixaria o cara entrar na casa dela, como ela é atiradinha hein?! mas gostei muito, segue uma história com detalhes que prendem a nossa atenção. O livro deve ser muito bom, parabéns!

Elizete Costa disse...

Parabéns!
Você escreve bem.
Adoro ler, mas... quero saber o final